Que tristeza a condição dos professores!
Manchete de "O Estado de São Paulo"
envergonha-nos: "Professor do ensino fundamental no país é um dos mais mal
pagos do mundo". E a lemos nos dias que antecederam a eleição de prefeito
e vereadores. Em qualquer cultura que se preze, um professor do ensino
fundamental representa muito mais e cumpre papel imensamente mais importante
que um vereador. E que diferença de salário! Por que não se invertem os
investimentos do Estado?
Evidentemente, o salário não significa o último
critério de valor de uma profissão ou vocação. Revela, antes, os jogos de
interesses do sistema capitalista. O campo privado rege-se pela trindade
sagrada de lucro, mercado e capital. E tal se pensa em curto prazo,
especialmente no capitalismo brasileiro, altamente imediatista. Que executivo,
que profissão, que cargos rendem mais no jogo do mercado? Aí estão os
privilegiados. Difícil interferir nesse campo, já que aí não funcionam a ética
nem os valores sociais nem o bem da nação.
No referente ao Estado, haveria possibilidade de
ser diferente. Em princípio, ele existe precisamente para salvaguardar os
direitos dos cidadãos em face dos outros. No entanto, a democracia
representativa tem vício grave, que, até agora, pareceu insuperável. Os homens
do poder entram em círculo vicioso retroalimentador quase invencível.
Os políticos votam o próprio salário. Algo
realmente espantoso. E elegem-se à base de alianças com poderes econômicos aos
quais se submetem para manter-se no poder em sucessivas eleições.
O professor do ensino fundamental não dispõe de
influências sobre os próprios salários. Daí terem que assumir outras tarefas
para subsistir. Pesquisa aprovada pela ONU revela que um professor de São Paulo
tem rendimento médio equivalente a 10% do que ganha um docente suíço e inferior
à média dos trabalhadores do país. E o que falar dos professores nos interiores
do Brasil que, às vezes, não chegam a ganhar um salário mínimo?
O país só terá futuro se inverter seriamente tal
política, incentivando os professores e permitindo-lhes, com salários melhores,
dedicar mais tempo aos alunos, e não simplesmente as horas de salas de aula. A
violência escolar com surtos assustadores se combate não com polícia, mas com
mais tempo de formação humana para as crianças e adolescentes. Estes, quando se
juntam em sala de aula, assumem posturas enlouquecidas. No entanto, na conversa
cara a cara, com tempo e cuidado, reagem diferentemente.
Não existe educação sem tempo e cuidado. A presença
de adultos ao lado do aluno dentro e fora da classe se faz hoje ainda mais
necessária, devido à triste ausência dos pais. Os menores, entregues a eles
mesmos e enturmados com colegas perigosos, criam hábitos perversos para toda a
vida. Não nos admiremos que eles formem gangues de assaltantes e se deem a
outras aventuras criminosas. A luta contra o crime começa na escola
fundamental. E o investimento nela traz enorme economia para o país, sem falar
de segurança e felicidade para tanta gente. Muita cegueira descuidar tal setor
da vida social!
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