Evangélicos
realizam Consulta para tratar sobre a corrupção que aflige o Brasil
A corrupção é um câncer social que, de alguma forma afeta toda a sociedade. Os mais ricos não a percebem. Os mais pobres são mais penalizados. E ambos talvez não tenham a exata noção do mal em que se constitui para a sociedade como um todo.
Na verdade, Deus
sempre chamou seu povo para apoiar os grupos mais vulneráveis da sociedade e
buscar a justiça, como em Isaías 1.17 e 59.15. O profeta Miquéias condena o
abuso dos tribunais por defraudarem as pessoas tomando seus meios de vida (Mq
2.2.), o abuso dos cargos públicos através do suborno (3.11), as riquezas
adquiridas através de práticas comerciais desonestas (6.10, 11) e a conspiração
das pessoas no poder para o seu próprio benefício (7.3).
Por isso um grupo
de cerca de 60 evangélicos de todo o Brasil, esteve reunido nos dias 26 e 27 de
abril, em Brasília, DF, para participar de uma Consulta sobre Governança
Pública e Transparência. A Consulta foi uma iniciativa de um coletivo de várias
entidades, entre elas Aliança Cristã Evangélica Brasileira, Rede Fale, Tearfund,
Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS), Movimento das Igrejas
Ecocidadãs, ministério Jeame, Aliança Bíblica Universitária do Brasil
(ABUB), A Rocha, Ação Evangélica (ACEV), CADI, Ecoliber, Aliança de Negras e
Negros Evangélicos do Brasil (ANNEB) e Evangélicos Pela Justiça
(EPJ). O evento também contou com o apoio da Secretaria de diálogos sociais, da
Secretaria da Presidência da República.
Contribuíram para a
consulta, ao longo da programação, várias pessoas de órgãos públicos e
organizações que procuram agir em combate à corrupção no Brasil. Através de
diferentes painéis e mesas, a Consulta contou com a presença e participação de
Márcio Rabat, assessor parlamentar há 20 anos, Pedro Gontijo, da Comissão
Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, Daniel Avelino, da Secretaria Nacional de
Articulação Social, José Moroni, pesquisador do Inesc, Fernanda Montenegro
Calado, do Tribunal de Contas do DF, Henrique Ziller, do TCU e do programa
Auditoria Cidadã, Antonio Agusto, da Transparência Brasil, Lizete Verillo, da
Amarribo Brasil.
A “corrupção diante
de nossa fé” foi o tema de um painel próprio, que contou a contribuição de
Lyndon Araújo, pastor congregacional, doutor em história, professor
universitário, e Daniel de Almeida e Souza Jr., pastor batista e missionário da
Sepal. Além de Lyndon e Daniel, da liderança da Aliança Evangélica também
participaram os pastores José Carlos da Silva e Thiago Tom . Os dois momentos
devocionais do programa contaram com a contribuição do pastor Wilson Costa,
pastor presbiteriano e diretor executivo da Aliança Evangélica, e do pastor
Júlio Borges, da Igreja Cristã de Brasília.
Ao final da
Consulta foram indicadas várias ações a serem implementadas ao longo do
restante de 2013 e em 2014, num horizonte de curto prazo, para levar os
evangélicos brasileiros a considerarem este assunto como um desafio pertinente
à vida e ao testemunho cristãos, de maneira que oremos sobre o assunto, atuemos
quanto à corrupção que causa tantos males a nossa sociedade e evitemos também o
pecado da omissão quanto a isso.
Um pouco mais sobre corrupção
Corrupção pode ser
definida como “abuso de poder para o benefício próprio à custa de outros ou da
sociedade como um todo”. Este abuso de poder pode ser exercido por pessoas, por
grupos, por organizações, por empresas e corporações.
Geralmente
associada à corrupção está o suborno, que pode ser definido por “oferecimento,
concessão ou promessa de vantagem financeira ou de outro tipo para induzir o
receptor a desempenhar suas funções ou atividades indevidamente ou
recompensá-lo por já o ter feito”.
Segundo o diretor-executivo da ONG Transparência
Brasil, Cláudio Weber Abramo, e Gil Castello Branco, diretor-executivo do
Contas Abertas, é muito difícil quantificar a corrupção por causa de sua
própria natureza. Mas um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo, de 2010, estimou que ele fica entre R$ 50 bi a R$ 85 bi por ano. Isso
corresponde a 2,3% de toda riqueza produzida no Brasil em um ano. É muito
dinheiro!
Além do aspecto social que a todos nos importa como
cidadãos e cidadãs, a corrupção toca em aspectos fundamentais da fé cristã.
Onde há corrupção, há corrompidos e corruptores. É uma manifestação de
injustiça. Do lado do corruptor há clara manifestação de desonestidade e também
de abuso de poder econômico, ao usar do dinheiro para obter um favor, uma
facilitação ou uma vantagem ilegal. Do lado do corrompido, há também
desonestidade associada à ganância, que o leva ao ganho indevido e muitas vezes
ilegal.
É comum acreditar que nada possa ser feito para
mudar a situação, que o problema seja demasiadamente grande e que os
perpetradores sejam simplesmente poderosos demais. Embora estes problemas, sem
dúvida, representem grandes desafios, a igreja, os cidadãos comuns e as
organizações da sociedade civil podem fazer a diferença! Nesse sentido, Abramo,
da Transparência Brasil, acha que a pergunta mais importante que deve ser feita
é o que fazer para combater a corrupção.
Entre 180 países, o
Brasil está na 75ª colocação, no ranking da corrupção elaborado pela
Transparência Internacional. Numa escala de zero a 10, sendo que números mais
altos representam países menos corruptos, o Brasil tem nota 3,7. A média
mundial é 4,03 pontos. Além disso, o levantamento também traz simulações de
quanto a União poderia investir, em diversas áreas econômicas e sociais, caso a
corrupção fosse menos elevada. Veja abaixo o quanto poderia ser investido do
dinheiro gasto em corrupção no Brasil, segundo um artigo da Revista Eletrônica
Ideias (www.revistaideias.com.br):
·
Educação – O número de matriculados na rede pública do ensino
fundamental saltaria de 34,5 milhões para 51 milhões de alunos. Um aumento de
47,%, que incluiria mais de 16 milhões de jovens e crianças.
·
Saúde – Nos hospitais públicos do SUS, a quantidade de leitos para
internação, que hoje é de 367.397, poderia crescer 89%, que significariam
327.012 leitos a mais para os pacientes.
·
Habitação – O número de moradias populares cresceria consideravelmente.
A perspectiva do PAC é atender 3.960.000 de famílias; sem a corrupção, outras
2.940.371 poderiam entrar nessa meta, ou seja, aumentaria 74,3%.
·
Saneamento – A quantidade de domicílios atendidos, segundo a estimativa
atual do PAC, é de 22.500.00. O serviço poderia crescer em 103,8%, somando mais
23.347.547 casas com esgotos. Isso diminuiria os riscos de saúde na população e
a mortalidade infantil.
·
Infraestrutura – Os 2.518 km de ferrovias, conforme as metas do PAC,
seriam acrescidos de 13.230 km, aumento de 525% para escoamento de produção. Os
portos também sentiriam a diferença, os 12 que o País possui poderiam saltar
para 184, um incremento de 1537%. Além disso, o montante absorvido pela
corrupção poderia ser utilizado para a construção de 277 novos aeroportos, um
crescimento de 1383%.
A coalização
brasileira de combate à corrupção liderada pela ONG Amarribo Brasil edita uma
excelente cartilha para os interessados em saber mais sobre o tema, sob o
título de “O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil”, que já está em sua
5ª edição e oferece excelentes orientações práticas de combate à corrupção e
que tem funcionado em 219 municípios brasileiros.
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