Caminhamos pela vida querendo ser perfeitos, querendo suprir as
expectativas dos outros. O Evangelho nos fala de um amor até o
extremo da cruz, de braços pregados abertos, do amor sem
limites de Jesus ressuscitado, do amor que cura a ferida profunda
e inconfessável do coração, que levanta, que faz recomeçar.
A experiência da predileção de Jesus por Tomé certamente foi a
rocha da vida do apóstolo, à qual ele voltava cada vez que se sentia perdido,
fracassado. Jesus o amava assim como ele era.
Ele havia estado com Jesus, caminhou com Ele, compartilhou
refeições, riu e sonhou junto ao Mestre. Pescaram juntos e contemplaram muitos
entardeceres e amanheceres na Galileia. Muitas noites olhando as estrelas.
Muitas conversas de amigos. Na Última Ceia, Jesus lhe mostrou
o seu amor.
Mas Tomé, que amava tanto Jesus, ainda não o conhecia totalmente.
Não sabia como era o coração de Jesus. Esse coração que se rompeu
na cruz e do qual brotou a fonte que sacia a sede do mundo.
Tomé ainda não sabia que não precisava ganhar nada, nem demonstrar nada, porque
o amor de Jesus era gratuidade, e o apóstolo
o recebia simplesmente por ser quem era. Jesus jamais se
distanciaria dele por causa do seu pecado.
Jesus voltou por ele, só por ele. Para que Tomé sentisse que o
mestre o amava, que o preferia, que se submetia à sua petição. Acreditou nele,
não deu a batalha por vencida diante da primeira queda. Jesus acreditou
em Tomé mais do que Tomé acreditou em Jesus e nele mesmo. E
Deus é assim. É difícil de acreditar.
Quando observamos os outros, parece que eles são melhores que nós, e podemos
pensar que Deus os ama mais do que a nós. Mas Deus olha para mim. Vela por mim.
Está desejando poder me dizer o quanto me ama, que volta por mim, que gosta de
mim do jeito que eu sou. Ainda que agora eu duvide, sinta inveja e não seja
capaz de alegrar-me pelo bem dos outros, ainda que minha ferida de amor sangre,
Ele me ama.
Qual é a minha ferida de amor? Jesus me
ama justamente nesta ferida. É nesta ferida que Jesus me
reconhece.
E ao tocar a ferida do outro, sempre tocamos Deus. Porque a ferida é
sagrada. E temos de nos aproximar dela de joelhos. Então podemos dizer:
"Meu Senhor e meu Deus!".
Sentir-nos amados do jeito que somos é a maior experiência que podemos ter
nesta vida. Sabemos amados por quem nos conhece de verdade, com nossas falhas,
nossas feridas, nossas cruzes. É assim que Deus nos ama. E é assim
que somos convidados a amar também.
Hoje, Jesus nos mostra este amor. Ele se mostra
humilhado, ferido, sem reservar-se nada. Na Eucaristia, quando o Corpo de Cristo é
partido e elevado, podemos dizer que este é o momento de Tomé. Jesus está
aí, na minha frente, diante da minha própria ferida.
O amor de Deus transborda da sua ferida e nos
convida a habitar no mais profundo do seu ser. É aí que descansamos. Aí podemos
recobrar a vida. Aí podemos escutar o coração de Deus, a força de Deus, o amor infinito
de Deus por nós.
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