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Município de
Bento Rodrigues um mês após o crime ambiental.
(Foto: Rosilene Miliotti / FASE)
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Quantas Marianas (MG) serão necessárias para que o Brasil reveja
seu modelo de desenvolvimento? A partir dessa questão, a FASE, a
Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) e o Comitê Nacional em Defesa dos
Territórios Frente à Mineração produziriam o vídeo “Não foi acidente”. Além de
relembrar as irresponsabilidades da empresa, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, a produção destaca que o crime
ambiental está relacionado a uma lógica que se repete pelo país, ameaçando a
biodiversidade, a economia local e os modos de vida de populações em diversos
territórios.
Com
o preço dos minérios em baixa no mercado mundial, a lucratividade é garantida
pelo aumento da extração dos bens naturais e
pela redução dos custos empresariais nessa exploração. Segundo dados do Plano
Nacional de Mineração, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, o Brasil
pretende triplicar a extração mineral até 2030. “Hoje, cerca de 60% da produção
mineral no país é destinada à exportação e é realizada em larga escala por
empresas que controlam terras e águas. Frente aos interesses dessas
corporações, o Estado altera regras de licenciamento ambiental e
media acordos que mantém impunes crimes como o de Mariana”, critica Julianna
Malerba, que dirige o filme junto a Maiana Maia, ambas do Grupo Nacional de
Assessoria (GNA) da FASE.
Atualmente,
os atingidos pelo desastre em Mariana ainda lutam para reconstruir suas vidas.
A tragédia deixou 19 mortos, 1200 desabrigados e mais de 3 milhões de pessoas
afetadas. A contaminação do Rio Doce impactou os estados de Minas Gerais
e Espírito Santo e alcançou o litoral da Bahia. “Um licenciamento ambiental precário,
a sobrecarga da capacidade da barragem, a ausência de fiscalização e de um
plano de emergência, além da total falta de informações aos atingidos, antes e
depois do desastre, revelam que não foi acidente”, destaca o vídeo.
Territórios X Mineração
“Não
foi acidente”² reúne vozes do Assentamento Agroextrativista
Lago Grande, no Pará, que se encontra ameaçado pela exploração de bauxita;
do assentamento de Reforma Agrária Roseli Nunes, em Mato Grosso, onde a
produção de alimentos saudáveis pode ser prejudicada pela extração de minério
de ferro e fosfato; de uma região do semiárido cearense, em que a mineração a
céu aberto de urânio e fosfato pretende consumir, por hora, o equivalente a 115
carros pipa de água; e de pescadores e pescadoras artesanais do Espírito Santo
que serão impactados por três minerodutos.
Os
depoimentos do vídeo foram gravados um mês após o rompimento da barragem da Samarco,
quando lideranças de diversas regiões do país ameaçadas pela expansão da
mineração visitaram Bento Rodrigues. De acordo com o IBGE, quase 85% da
população do distrito é não-branca. “Alguns grupos estão mais expostos aos
riscos ambientais e se encontram em situação particularmente vulnerável quando
desastres como este ocorrem”, pontua Julianna.
[1] Jornalista da FASE.
[2] O vídeo contou com o apoio da da Fundação Ford e da Fundação
Heinrich Böll.
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